Ok, here we go again... Tenho postado muito pouco no blog do Téo, mas isso não é por falta de atenção ao meu filho, pelo contrário, faço o possível para dar-lhe atenção presencial. Mas como estou na reta final da pós, tive de diminuir a freqüência (que já era parca) dos posts em todos os meus blogs. Enfim, como a Sherol (mandou) sugeriu que eu viesse escrever algo sobre o machismo e eu sou um cara muito (pau mandado) bacana, vim dar minha contribuição. Ok, ok, terminada a sessão “brincadeiras infames”, vamos falar sério, pois o assunto exige.
A questão do machismo, no meu entender, está muito ligada à sexualidade e a maneira como meninos e meninas são instruídos. Ninguém nasce machista. Ninguém nasce homofóbico. Ninguém nasce racista. Mas em algum momento da criação, estas ideologias podem ser passadas a criança/adolescente e, seja por “distração” ou “irresponsabilidade” dos pais, cria-se um adulto monstruoso. Nossa, palavra forte hein? Monstro? Pois é, mas então defina pessoas capazes de atitudes covardes, como queimar a esposa com baganas de cigarro. Me dá um adjetivo para um cara que sai para trabalhar deixando a esposa trancada a chaves em casa. Defina uma pessoa que manda a esposa para o hospital por não saber lidar com suas frustrações ou porque bebeu demais. Mas e a violência e só física? É claro que não. A violência está na piadinha “inocente”, está no desrespeito, está na mensagem muito subliminar do “eu sou mais forte fisicamente que você”.
Como tive uma mãe que foi uma verdadeira “Sargenta” na infância sendo promovida a “Tenente” na minha adolescência (e costumo brincar que, não precisei servir às forças armadas pois as forças armadas estavam lá em casa atendendo pelo nome de “mãe” ;o)), penso que, foram fundamentais os limites que ela me passou quando eu era criança. Tenho dois irmãos e duas irmãs, e lá em casa não tinha essa história de homens poderem se trancar no quarto com suas namoradas e as mulheres não. Ninguém podia, independente do sexo pois “a casa é minha e quero respeito aqui dentro”, dizia ela. A única vez que experimentei fazer isso, quase tive a porta do quarto arrombada, com promessas de que na próxima vez alguém voaria pela janela.
Dos meus irmãos, todos sabem cozinhar, pois quando ela ia para a cozinha, colocava os cinco enfileirados na mesa para ajudá-la a preparar um almoço ou um jantar, sempre usando a desculpa de que um dia ainda íamos precisar “nos virar”. Dito e feito, morei sozinho por 2 anos e não fossem as aulas forçadas de culinária, eu teria hoje uns 150 kg de tanto Big Mac (aliás, peguei gosto pela coisa e se tiver um tempinho visite meu blog de culinária). Além disso, meu pai trabalhou mais de 35 anos na mesma empresa, e minha mãe sempre cuidou dos cinco filhos em casa, mas que algum de nós ousasse dizer que ela não trabalhava: “Ok, então amanhã tu vai cozinhar, lavar, passar e cuidar de 5 crianças.” E somente graças a educação que meus pais me deram, posso hoje dar muito valor a esposa que eu tenho, que trabalha bastante, divide comigo as tarefas da casa e se mostrou uma mãe melhor do que eu poderia esperar para o Téo.
Em resumo o que quero para o Téo é isso. Quero ensiná-lo que um homem de verdade não é aquele que vai ligar chorando para a mamãe e o papai, quando se vir em situações corriqueiras como cozinhar, lavar uma louça ou cuidar da casa, mas sim aquele que sabe se virar. Mas olha aí que coincidência, as mulheres de verdade também sabem se virar.
Ensiná-lo que o homem de verdade, não é aquele que vende a própria mãe para ter vida fácil ou esquece o caráter para ganhar dinheiro, mas é aquele cara que ganha seu dinheiro honestamente e que honra com seus compromissos no final do mês. Mas olha só que coincidência, as mulheres de verdade também fazem isso.
Ensiná-lo que homem de verdade, é aquele que trata as pessoas cordialmente, que diz boa tarde ao ingressar nos lugares, que conhece o significado e usa com freqüência as expressões “Obrigado”, “Desculpe” e “Por favor”. Mas olha que engraçado, as mulheres de verdade também fazem isso.
Ensiná-lo que homem de verdade, é aquela pessoa que age com justiça e que não se revela um mau caráter ambicioso, quando o “poder” lhe cai às mãos. Mas minha nossa, as coincidências não param, as mulheres de verdade também têm essa habilidade.
Ensiná-lo que o homem de verdade pode usar rosa, pode ser amigo das meninas, pode errar desde que não o faça freqüentemente com a intenção de prejudicar alguém, pode gostar de Madona, pode gostar de dançar, pode ser péssimo motorista e pode ter nojo de baratas.
Você consegue perceber? Não existem diferenças entre um homem de verdade e uma mulher de verdade e o meu desejo é que o Téo entenda isso o quanto antes. E entenda principalmente que além de não ser covarde, todas as pessoas, sejam homens, mulheres, pretos, brancos, azuis com bolinhas amarelas, homosexuais, heterosexuais, feios, bonitos, magros, gordos, deficientes físicos e sem deficiências físicas, TODOS merecem respeito.
Não conheço a outra pessoa, logo, ela merece meu respeito até que me prove não merecê-lo. E mesmo que seja o caso, a minha cabeça é quem manda nos músculos do meu corpo e não o contrário. Se estou insatisfeito, vou dar um jeito de mudar a minha situação e com certeza a minha solução não vai passar por “espancar a minha esposa”.
Eu desejo que o Téo saiba lidar com as diferenças das pessoas. Desejo que ele não seja intolerante, pois a intolerância acaba com nossa civilidade e por conseqüência acabará com nossa civilização (como temos visto acontecer diariamente, pouco a pouco). Se o Téo vai assimilar isso ou não, só o tempo vai poder nos dizer. Só torço para que ele não sofra, pois ser homem e ter a necessidade de se sentir “melhor” do que uma mulher para se sentir pleno, na minha opinião, é sofrimento.
t+
Spk
Um comentário:
Que texto maravilhoso. O Téo está muitíssimo bem servido de pais. Essa é a cartilha do Miguel também. E, neste caso, acho que nós, pais de meninos, temos uma responsabilidade ainda maior. Pois, infelizmente, tem sido neles que nossa sociedade tem tentado perpetuar o seu pior.
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