terça-feira, 7 de junho de 2011

E por falar em mamaço...

Antes de começar a me expressar, que uma coisa fique clara: aquém de qualquer visão científica sobre o tema, falo aqui enquanto homem e pai do Téo. O que muito me orgulha, apesar de ter lá minhas desconfianças se o orgulho é uma coisa boa, dado o quanto ele cega os julgamentos das pessoas (nossa, que papo esquizofrênico; foco Cris, foco ;o)).

Um dos motivos que me fizeram apaixonar pela Sherol, foi o fato de ela mesmo sendo 3 anos mais jovem do que eu, parecer ser 15 anos mais “madura” (capaz que ia chamar minha esposa de velha né? Há limites, há limites ;o)). Ela vive me “cutucando”, me instigando, muitas vezes provocando até demais, mas sempre me levando a reflexões que antes eu não fazia. Por exemplo? Ser homem. Isso mesmo, meu papel enquanto homem no meio onde vivo.

Com meus pais, sempre aprendi a ser educado, abrir a porta do carro para as mulheres, ceder assento, honrar compromissos, ter palavra, o que convenhamos não é pouco dado ao que tenho visto por aí. Mas depois de uma mãe ter sido proibida de amamentar no Itaú Cultural São Paulo, e isso graças a Deus ter caído aos ouvidos de pessoas que se mobilizam e que brigam por seus direitos, rolou uma discussão muito polêmica sobre o ato de amamentar em público. E numa das conversas com a Sherol me peguei pensando: “Mas vem cá e meu papel enquanto homem nisso tudo?”

Pois bem, todo esse trololó inicial para dizer que conversando com a Sherol sobre o ato de amamentar em público, nunca me importou que ela o fizesse. E durante essa conversa ela me questionou o que meus amigos achavam disso, se já havia conversado sobre isso com eles, afinal, somos todos multiplicadores. Obviamente não soube responder, pois homem tem disso, a gente sabe a marca da cerveja que os amigos bebem, mas por diversas vezes sequer sabemos seus nomes tratando-os apenas pelos apelidos. Ok, decidi perguntar aos meus colegas de aula, pois para mim era muito claro, quase óbvio, que pessoas instruídas, cursando uma pós graduação, jamais se importariam com um ato simples como esse em locais públicos. Para a minha surpresa, a história não foi bem essa. Não vou entrar em detalhes, mas cerca de 80% da turma (minha turma é formada apenas por homens), se sentiam constrangidos na presença de uma mulher amamentando. Isso mesmo, eles não se sentem a vontade e preferem que ou elas se afastem, ou eles mesmos se retiram do ambiente. É claro que sempre aparecem as opiniões de gente que enxerga mulher como gado, que se “instrui” em programas como o “Pânico na TV” e afins, mas também surgiram opiniões de pessoas sérias, dispostas a debater e pensar sobre o assunto.

A despeito da longa conversa entre meus colegas que repercutiu disso, a conclusão a que cheguei é que temos pontos de vista muito divergentes (gênio!!!). Eu não tenho como enxergar a amamentação em público da maneira que eles a vêem, assim como eles também não enxergam da maneira como eu vejo. Talvez pela maioria deles ainda não serem pais? Ok, pode ser, mas o fato é que, ficamos chovendo no molhado por quase todo o intervalo de almoço e não chegamos a consenso algum. Todos fomos embora com as mesmas opiniões que chegamos, mas assim como a Sherol me faz pensar, fico feliz que pelo menos eles tenham parado para me ouvir e pensar sobre o assunto, assim como eu os ouvi. Não me dei por satisfeito, acho errado, muitas vezes até doentio, mas respeito as opiniões deles, justamente pelo alto nível em que debatemos e afinal, vejo que meu papel enquanto homem era justamente promover esse debate, pois isso nos diz sim, muito respeito. De minha parte, fico surpreso com a maioria significativa do meu pequeno universo universitário que não pensa como eu, e hoje posso dizer que tenho certo conhecimento empírico para apoiar o mamaço (aliás, mamaço em POA no qual eu, a Sherol e o Téo estivemos, vide postagem logo abaixo).
Como esse blog é do Téo, e a idéia não é polemizar o espaço dele, mas registrar nossas memórias para que um dia, se Deus quiser, ele possa lê-las, interpretá-las e se possível considerá-las, segue aqui, meu filho, o que papai tem a dizer:

 “Téo. O ato de uma mãe dar de mamar, onde quer que seja, não deve te constranger meu filho. Pelo contrário, esta é uma das coisas mais bonitas que já vi a tua mãe fazer por ti. Expor seu peito em público para saciar a tua fome sem se importar com o que os olhares de terceiros dirão a respeito, sem se importar que talvez mentes masculinas e quem sabe até femininas, enxergarão sexo onde só existe amor de verdade é uma grande prova de que ela é capaz de se doar a ti, frente a qualquer problema que o mundo lá fora possa te oferecer. A primeira coisa que a tua mãe faz quando tu chegas da escolinha é te dar de mamar. E se por ventura não vamos direto para casa, se passamos num supermercado por exemplo, ela procura um lugar para sentar-se contigo no colo, levanta a blusa e sacia a tua fome, enquanto tu, agradecidamente massageia-lhe a orelha, interrompendo a mamada de tempos em tempos para ofertar tuas risadinhas inconfundíveis de agradecimento. Valorize-a por isso. Respeite-a por isso. Somos todos diferentes filho e tu aprenderás, a duras penas ou não, que a vida consiste no respeito a essas diferenças. Tu não és obrigado a compartilhar da mesma idéia do papai, então se por ventura não aprovares esse ato, não és obrigado a aprová-lo. Basta respeitá-lo. Um beijo de quem infelizmente não pode, também, te amamentar.”


 Cris

4 comentários:

Thaty disse...

Olha, ele falou tão bem, mas tão bem, que eu estou sem palavras pra comentar aqui. E olha que me deixar sem palavras é algo difícil, pq sou falante pra caramba!!! :)

Parabéns aos dois, post maravilhoso!

Beijos
Tati

Tassi Bach disse...

Gentiii... Tô emocionada aqui! Cristiano, tu escreve muito bem! A respeito do que a maioria dos homens pensam sobre amamentar em público, eu realmente entendo eles. Homem vê sexo em tudo, e isso é instintivo, nem tem como reprimir isso. O que acontece é que homens mais resolvidos em sua sexualidade (não em opção sexual, mas na vida sexual) tentam eliminar esses pensamentos e viram o rosto em respeito ou se precisam olhar para a mãe amamentando, olham-na no rosto. Foi isso que o meu marido explicou, que antes de ser pai, ele ficava meio constrangido, mas procurava não olhar em respeito. Hoje, sendo pai, ele entende perfeitamente a necessidade do bebê de ser amamentando onde quer que se esteja. O que não dá pra aceitar é pessoas que acham aceitável ver uma mulher nua em uma revista exposta na banca, onde crianças passam, e acham um absurdo uma mãe amamentar em público. De onde eu vim, isso se chama inversão de valores, mas isso dá muito pano pra manga... Abraços!

Cristiano disse...

Oi Thaty. Obrigado pela visita e pela declaração, seja sempre bem vinda.

Oi Tassi. Eu concordo que a inversão de valores nos dias atuais é algo que já está beirando a insanidade. Não me lembro em qual revista, acho que foi na Galileu há tempo atrás, exibindo uma reportagem dizendo que os gastos em armamento nos EUA só no ano passado, seriam suficientes para alimentar o continente africano pelo ano todo. Além disso, se é para a mulher mostrar partes íntimas, que escancare os seios ou a bunda na TV em horário nobre, quem sabe desfilar pelada no carnaval, mas amamentar? Vocês deviam ter mais vergonha viu hauhaua ;o)
O preocupante disso, como alguém já disse (acho que foi Luther King), não é o grito dos maus mas o silêncio dos bons. Por isso acho que promover a discussão é fundamental, até porque, a tarefa de criar o Téo, nesse mundinho onde ética virou qualidade facultativa, não vai ser tarefa fácil. Obrigado pela visita e pela contribuição.

Sds,
Cristiano

Adri disse...

Vejam como são as coisas né? Uma mãe amamentar em público causar desconforto? constrangimento ou simples incômodo? E a necessidade do bebê? a ternura do gesto? a doação da mãe? Não deveriam apenas demonstrar um ato de amor incondicional?
É as pessoas são surpreendentes mesmo!
Parabéns Cris e Sherol, pela reflexão.