segunda-feira, 8 de março de 2010

Relato de parto

Escrever ou descrever o momento em dei a luz ao meu filho é quase impossível. Foi um momento mágico, iluminado, intenso. No entanto, acho importante dividir essas sensações com os amigos e demais curiosos, por isso vou fazer um “esforcinho”...O trabalho de parto começou no início da madrugada de terça, 02/03. Isso eu só posso afirmar agora, depois do ocorrido, pois às 01:19 quando fui acordada pela primeira contração, sentia apenas uma sensação estranha, a barriga endureceu, mas não chegou a doer e voltei a dormir.
Fazia pouco tempo que havia deitado, tive uma segunda-feira agitada, depois de uma semana onde me impus um “repouso”, caminhei bastante: fui ao centro fazer umas comprinhas, arrumei a mala da maternidade, fiz a unha, depilei o buço, revisei a mala do Teodoro e etc... Afinal na semana anterior não tinha ido nem na yoga para que o Téo não nascesse em fevereiro (desculpem-me os nascidos neste mês, mas eu acho meio chato passar a vida toda correndo o risco de fazer aniversário em pleno carnaval...). Entrando o mês de março tinha que estar pronta!!! Na terça seria aniversário do Cris e tinha que estar apresentável e também voltaria a yoga.Voltando a cena: as contrações se seguiram, irregulares e sem dor. As primeiras eu nem precisei me levantar, depois de um certo tempo sentia a necessidade de dar uma caminhada. Perto das 5h fiquei mais segura de que estava realmente em trabalho de parto e chamei o Cris (pasmem: eu levantei umas 20 vezes, gemi, tomei água e fui ao banheiro e ele nem se mexeu! Êta soninho bom! hehehehe). Nesse momento as contrações já estavam mais doídas e tomando regularidade, precisava das massagens que havíamos ensaiado.
Apesar de parecer “morto” nas horas anteriores, quando eu chamei o Cris pulou da cama e foi ótimo! Com as contrações mais doloridas, as massagens dele na minha lombar foram um verdadeiro bálsamo. Outra coisa boa foi o banho, tomei um longo, demorado e quente que me ajudou muito a agüentar mais um tempo em casa. Nossa intenção era esperar em casa o máximo possível, para evitar aquele clima de hospital, o que poderia atrapalhar o andamento do trabalho de parto.
Perto das 6h da manhã as contrações ficaram mais intensas e ritmadas. Sem cabeça fria suficiente para saber se as contrações tinham tomado ritmo, resolvemos anotar, o Cris pegou um papel e uma caneta e passou a anotar o horário toda vez que eu me contorcia. Não ficar anotando desde a primeira contração foi umas das preciosas dicas da Fabi, e realmente não é necessário, é possível perceber a evolução das contrações sem papel e caneta, nós resolvemos anotar só para confirmar o que já havíamos constatado empiricamente. Dessa forma “descobrimos” que as contrações estavam seguindo um ritmo bastante regular, e eu já me sentia mais segura para ir ao hospital. Saímos de casa às 7:04 e nos dirigimos para o Divina Providência.
Chegamos no hospital as 7:20. Devo dizer que o caminho foi penoso, mesmo com o Cris dirigindo a 20km/h cada buraquinho do asfalto me doía! A essa altura caminhar estava mais difícil e chegando ao hospital enquanto o Cris estacionava fiquei de cócoras na recepção, devia ser uma cena meio esquisita para quem estava passando, mas era a posição mais confortável pra mim, dava um alívio incrível!
Chegando ao 3º andar, fui encaminhada para a sala de preparo onde a enfermeira Bruna me acolheu e examinou: 6cm de dilatação!!! Uhuuu! Vitória! Meu filhão estava a caminho e eu tinha conseguido cumprir minha meta: fiquei em casa até o trabalho de parto avançar, com calma e segurança.Vestida com a aquela roupinha lamentável de bundinha de fora, fui para outra sala onde uma técnica me avisou que já haviam ligado para a MD. Scheyla, ela estava a caminho e tinha orientado para fazer tricotomia e prescrito soro para hidratar. Não sei quanto tempo eu fiquei sozinha naquela sala após a tricotomia, mas devo dizer que foram os minutos mais longos da minha vida, as contrações longe do Cris pareciam mais doloridas, a única posição que me parecia um pouco mais confortável era de joelhos com os braços e a cabeça apoiados numa poltrona.
Aproveito para falar sobre a dor. Não vou mentir: dói, dói muito. Mas não é insuportável. Na verdade arrisco dizer que é até bom. É uma dor bastante intensa, que toma conta de todo o corpo, dura alguns segundos no início e depois é mais demorada, mas passa. E principalmente, a gente esquece. Explico: após o parto, na sala de recuperação, enquanto esperava o Teodoro tentei me lembrar das sensações que tive minutos antes e simplesmente não lembrei da dor. Não fui capaz de lembrar de como era a dor que senti menos de uma hora antes, sabia que tinha sido intensa e até desesperadora, mas meu corpo não lembrava. Na memória do meu corpo restou apenas a sensação deliciosa de sentir meu filho saindo de mim e logo em seguida sendo colocado sobre a minha barriga. Simplesmente divino.
Minha mãe e outras mães mais experientes já haviam me dito isso: “a natureza é sábia, logo depois que o nenê nasce tu esquece da dor, se não fosse assim ninguém teria o segundo filho!”. Essa é uma verdade absoluta, pode acreditar.
Seguindo a cena. Depois de acertar a papelada toda o Cris voltou e aí fiquei mais tranqüila. As melhores posições no início eram de pé, caminhando ou de cócoras, mas logo que a Scheyla chegou eu já não me sentia confortável de pé, preferi ficar deitada com uma das pernas mais alta. No primeiro exame de toque da Scheyla, acho que já devia ser umas 10h ou perto disso, eu já estava com 8cm de dilatação, mas a bolsa ainda não havia se rompido. A Scheyla então avisou que caso a bolsa não rompesse ela faria isso, mas disse que iríamos esperar a chegada do pediatra para isso, pois o rompimento da bolsa iria acelerar o processo, e que tudo estava evoluindo maravilhosamente bem.
Essa reta final foi a parte de dor mais intensa, não conseguia encontrar uma posição confortável. Além disso, devo dizer as futuras mamães que por ventura estejam lendo, foi também a parte mais “constrangedora” digamos assim, pois perdi o controle sobre a bexiga e o esfíncter completamente, então vocês já podem imaginar a lambança, né? Claro que na hora eu não tava nem aí, hoje é que penso nisso como algo constrangedor, faz parte...
Nos intervalos entre as contrações duas coisas me tranqüilizavam: ver ou sentir o Cris bem pertinho e ouvir boa música ao fundo. O meu amor preparou uma seleção de músicas e colocou a tocar na sala de parto, sinceramente não lembro de muitas delas, mas lembro da sensação gostosa de ouvi-las. Na verdade eu lembro só de uma: You make me feel brand new, do Simply Red. Essa tava tocando quando eu entrei na fase “Ai meu Deus vou desistir!”.
Essa fase começou perto das 11h, o pediatra já havia chegado, a Scheyla já tinha rompido a bolsa e estava tudo pronto. Exceto por mim. As contrações ficaram muito mais doloridas. Eu sentia uma vontade enorme de fazer força, mas não conseguia. Ao mesmo tempo que sentia que devia fazer força eu não tinha mais forças. Foi o momento mais desesperador. Eu consegui dar uma boa empurrada e o Téo encaixou (corroou como se diz), mas depois disso eu não atinava mais fazer a força certa. Sempre que vinha uma contração eu acabava fazendo mais força no pescoço ou nos braços e não no ventre. E por mais que a Scheyla, o Cris e todas as pessoas que estavam lá me dissessem que eu estava indo bem, me sentia sem forças, esgotada.
Essa foi a hora em que pensei em desistir. De repente me senti fraca e incapaz. Forcei meu pensamento no meu filho, concentrei todas as minhas forças na vontade de vê-lo. No som tocava Simply Red e a Scheyla me olhou bem nos olhos e disse: “olha só que música linda, quem sabe não é agora que o Téozinho vai nascer, respira fundo e te concentra que tu vai conseguir”, o gesto seguinte me deixou preocupada por alguns segundos: ela olhou para o lado e fez um sinal de “é agora” com os olhos para alguém. Esse alguém era a enfermeira, a Bruna. Esse é o nome do anjo que veio me ajudar. Ela pegou a escadinha colocou no lado cama, subiu e se inclinou para me olhar bem nos olhos e disse: “Eu tô aqui pra te ajudar, na próxima contração tu vai fazer a maior força que tu puder e eu vou empurrar, tá bom?”
Não demorou muito para que a próxima contração chegasse, assim que senti os músculos do meu corpo se contorcendo respirei o mais fundo que pude e pensei no mar, no azul do mar e na imagem de Yemanjá e fiz a maior força que pude. Senti as mãos da Bruna pressionando perto do meu diafragma. E quase simultaneamente senti a sensação mais gostosa do mundo: senti o corpo do meu filho saindo de mim, macio e quente. E logo vi aquele ser de luz sobre a minha barriga: era o Teodoro, minha dádiva de deus.
Valeu a pena. Tudo que passei foi recompensado por aquela cena. Me senti a mulher mais poderosa do mundo, imbatível, uma verdadeira força da natureza.
Nesse momento intenso de emoções tive também um certo susto: ao contrário do que imaginava o Teodoro não chorou imediatamente após nascer, levou alguns segundos, o que nesse dia de estréia total no papel de mãe me fez sentir a primeira preocupação genuinamente materna! Mas correu tudo bem, imediatamente após o pediatra dar uma leve aspirada com uma pipeta ele começou a resmungar e senti grande alívio. Chorar mesmo, ele não chorou, só resmungou. Quem chorou mesmo foi o Cris. Um choro lindo, com direito a muitas lágrimas. Muito natural, afinal junto com o Teodoro nasceram mais duas pessoas: a mãe e o pai.
E o Teodoro? Bom, de fato ele ficou bastante tempo encaixado esperando eu fazer a força certa, resultado disso foi a cabeça meio tortinha e uma mancha vermelha na testa. Ele ficou alguns minutos em cima de mim e logo o pediatra levou, acredito que tenha sido por conta do Apgar 7, mas logo ele voltou todo enroladinho para os meus braços aí pude olhar pra ele com calma. Lindo, divino, iluminado. Tocar o meu filho pela primeira vez me fez arrepiar, ele tava dormindo o sono mais lindo de todos os tempos. Não sei quanto tempo fiquei admirando ele, mas foram longos e deliciosos minutos.
Após o nosso “reconhecimento” o Cris foi com ele para tomar um banhinho e eu ainda fiquei quase 40min na sala de parto sendo literalmente reconstruída, pois além da episiotomia sofri muitas lacerações. Apesar disso me senti plena, feliz, divinamente feliz. Difícil explicar essa felicidade, é algo tão cheio de luz que fica realmente difícil explicar.

Para tentar encerrar esse longo relato queria agradecer. Agradecer à equipe do Divina Providência, à MD. Scheyla e ao MD Ruy é quase obrigação. Mas tem uma pessoa que foi imprescindível: meu amor, o Cristiano. A presença dele não foi só pra cumprir tabela, posso dizer com certeza que o Cris pariu o Teodoro junto comigo. Ele foi arranhado, escurraçado, carregou malas, acertou as burocracias e nem sequer almoçou, mas mesmo assim preparou o som ambiente, me cobriu de beijinhos e me ajudou a respirar. Ou seja, ele estava lá de corpo e alma, se entregou intensamente e isso não só me emociona como me deu muita segurança. Não sei se teria conseguido ter tanta força se ele não estivesse ali dessa forma. Cris, te amo cada dia mais, e de uma forma que jamais imaginei que existia.
O último recado vai para as futuras mamães: sintam isso, permitam-se essa emoção. Esqueça a dor, nem pense nela que não vale a pena. O que vale é sentir o amor nascer, junto com o seu filho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Sherol, tudo bom? Comecei a fazer yoga quando você já estava na reta final... Li teu relato e realmente me emocionei, parabéns!!!
Andréia Altenhofen Laguna, 35 semanas esperando a Manuela.

Beijos!